Os smartphones da Xiaomi são muito conhecidos por carregarem uma versão bem modificada do Android, a famosa MIUI. Ela tem grandes fãs, mas também há usuários que preferem evitar. Por isso, ter um aparelho com o corpo projetado pela marca, e que carrega oficialmente um Android minimamente modificado, pode ser bem interessante. Essa é a principal característica do Xiaomi Mi A1. Confira a análise do aparelho a seguir, onde narro minha experiência de algumas semanas de uso.
O smartphone é uma variante “internacional” do Mi 5X que carrega o Android One. Ambos receberam grande destaque por serem os primeiros intermediários da marca a trazerem câmeras dupla. Mas quais são os frutos dessa parceria com o Google? Vale a pena? Vou relatar minha experiência de uso nos próximos parágrafos.
Design
A minha primeira impressão sobre o design foi neutra. Apesar de notar muitas semelhanças entre o A1 e os iPhones Plus, não levei como algo negativo. Mas o que me incomodou foi o tamanho das bordas de cima e debaixo. Há um notável desaproveitamento da tela, tornando-o maior do que o Redmi Note 4X. Para quem tem mãos pequenas, isso pode ser um problema.
O defeito mais chato é apenas esse. O corpo é de alumínio e a cor fosca ajuda na pouca presença de manchas de uso das mãos. Retomando as semelhanças com o iPhone, elas se dão por conta do formato do agrupamento das duas câmeras — incluindo a protuberância, nas linhas para a recepção do sinal, ausência de outros elementos na traseira e até mesmo nos cantos arredondados. O corpo inteiro é chapado, trazendo apenas a logo da Xiaomi, do Android One e outras pequenas informações. Para não ficar mais parecido, o flash está no lado esquerdo e há o leitor biométrico.
Indo para a parte de botões e conexões, boa parte segue o padrão da Xiaomi na linha dos intermediários: botões de volume e energia na direita, entrada para nano-SIM e micro SD na esquerda, sensor infravermelho na parte de cima, entrada para fone de ouvido, alto falante e conexão USB-C na parte debaixo. O Mi A1 — junto com o 5X — são os primeiros intermediários da Xiaomi a trazerem a conexão. Esse é um ponto que vejo como muito positivo, já que há grandes vantagens nesse padrão e o emprego dele em aparelhos mais baratos ajudam na sua propagação.
O aparelho pesa 165 gramas e tem espessura de 7.3 mm. Apesar do já citado mau aproveitamento da tela, o peso e espessura ajudam no equilíbrio, transmitindo uma sensação de segurança ao segurar o smartphone.
A Xiaomi resolveu não inovar e copiou grande parte dos elementos do aparelho da Apple. No entanto, as diferenças ajudam um pouco e não enxergo-o como uma cópia descarada do iPhone 7 Plus. No geral, o aparelho é muito bonito e apesar do seu tamanho, há um equilíbrio nas outras dimensões que proporcionam uma boa experiência de uso no quesito design.
Tela
Ultimamente, a Xiaomi tem me agradado no quesito tela. Até mesmo o Redmi 4A — aparelho de baixo custo — me agradou muito na exibição de cores. Não foi diferente no Mi A1: a tela LTPS de 5,5 polegadas com resolução Full HD entrega uma boa harmonia entre saturação, brilho e contraste.
As telas LTPS levam essa sigla por causa do seu processo de fabricação (Low Temperatue Poly-silicon). É uma variante do LCD e está presente em alguns iPhones e aparelhos da Huawei. Basicamente, esse modo de fabricação permite que sejam criadas telas com maiores densidades de pixels, com um consumo de energia mais eficiente.
Mesmo sendo LCD na sua essência, fiquei muito satisfeito com o nível de fidelidade do preto, o que proporciona uma boa experiência de contraste ao assistir filmes e vídeos pelo aparelho. Os ângulos de visão também são satisfatórios, mas senti falta da possibilidade de personalizar alguns elementos via software. Não que eu tenha achado que alguma coisa poderia ser melhor ali, mas há usuários que gostam de outros perfis de cores, e nesse aspecto, o aparelho vai ficar devendo.
Outra ressalva que faço já foi comentada aqui: gostaria de ver um aproveitamento melhor do espaço da tela. Mas no sentido qualidade, não deixa nada a desejar. Até mesmo utilizando debaixo da luz do sol, não tive nenhum problema comprometedor. Essa é a melhor tela que já vi em um intermediário, e não fica devendo muita coisa quando comparada com telas de smartphones mais caros.
Câmera
A respeito da câmera, procurei fazer mais uso delas em boas condições de luz do que testá-las em ambientes com iluminação comprometida. Já adianto que por conta da diferença de abertura entre uma e outra (f/2.2 na primaria e f/2.6 na secundária), o zoom de 2x e modo retrato não saem satisfatoriamente bem. E até mesmo a primeira entrega fotos com boa quantidade de ruídos à noite sem flash.
Aplicativo de câmera
Ainda não comecei a falar do sistema operacional do aparelho, mas preciso adiantar uma peculiaridade: o aplicativo de câmera é feito pela Xiaomi. Mas por quê? Simplesmente porque o Google ainda não lançou nenhum smartphone com uma segunda câmera, ou também não quis dar suporte ainda a isso no AOSP. O mesmo aconteceu com os leitores biométricos, por exemplo. E talvez isso seja o motivo para algumas complicações que falarei mais a frente.
No modo automático, é possível ajustar rapidamente a exposição, ativar o flash ou modo retrato, o HDR e o zoom 2x. É uma interface simples e objetiva: caso você precise sacar rapidamente o celular do bolso para registrar uma cena, não vai ter distrações e garantirá uma boa quantidade de fotos em pouco tempo. No modo manual, a coisa fica mais interessante: você pode alterar o balanço de branco, controlar manualmente o foco, exposição, ISO (que vai de 100 até 3200) e selecionar a lente.
Também vale citar os modos panorama, beautiful (afina o rosto e suaviza a pele), selfie em grupo, Tilt-shift (cria uma vinheta com borrão, destacando o centro), quadrado, que cropa a câmera para as proporções 1:1, além de alguns filtros nativos.
Preciso comentar também um truque que não é exclusividade desse aparelho, mas outras pessoas podem não conhecer ou notar. A depender das condições de iluminação, quando o usuário tentar usar o zoom real de 2x no modo automático, ao invés de acionar a segunda lente, a primeira é que entra em ação e faz um zoom digital. Isso acontece porque a lente secundária é mais fechada que a principal — ela capta menos luz. Nesse caso, o software prioriza fotos mais claras e ativa o zoom digital ao invés do zoom da segunda lente. A foto sai mais clara, mas com baixa definição, em compensação, quando forçamos a segunda lente a tirar fotos nas mesmas condições, as imagens saem mais escuras e com ruído, mas tem mais detalhes.
A respeito da gravação de vídeos, ele grava em até 4K, mas sem especificar a taxa de quadros por segundo. Falando nisso, notei que o modo slow motion não funciona muito bem: ao ativar a função, a câmera dá um zoom digital e sinto que a desaceleração não é fruto da capacidade da câmera de filmar em FPS mais alto, e sim de um mero truque de software. Outro defeito está na incapacidade de usar a segunda lente para fazer vídeos, ressaltando mais ainda a presença do Google nessa parte.
Lente angular (principal)
A câmera principal é formada por um sensor de 12MP, com a já mencionada abertura de f/2.2 e distância focal estimada de 26mm, segundo a fabricante. Com uma boa iluminação natural o artificial, ela entrega resultados satisfatórios para a sua categoria.
Na foto a seguir, percebam os tons de azul formam um degradê, onde a parte de cima da foto ganha alguns ruídos e difere muito do restante. A foto foi tirada no modo automático, sem nenhum ajuste. Talvez o modo manual poderia contornar a situação, mas o certo seria entregar a melhor configuração possível a depender da cena de primeira.
Apesar disso, gostei das cores e da presença dos detalhes. No geral, para eu que sou um usuário que não coloca a câmera como prioridade número um ou dois, fiquei bem satisfeito.
Lente teleobjetiva (secundária)
A segunda lente é uma teleobjetiva de 12MP com distância focal estimada em 50mm e abertura de f/2.6. Alguns defeitos já foram citados acima, por conta disso, resta falar brevemente do desempenho em condições normais de iluminação.
Em comparação com a lente primeira, as cores saem um pouco mais lavadas, mas não é nada que seja prejudicial à foto. A presença de ruído é mínima, além de conter uma riqueza de detalhes semelhante à primeira câmera.
A vantagem de ter uma segunda lente onde ela é teleobjetiva está na possibilidade de trabalhar com o reconhecimento e diferenciação de planos de uma foto, permitindo usufruir do famoso modo retrato. Hoje, sabe-se que não é necessário uma segunda câmera para criar esse efeito, já que o Google o implementou no Pixel 2 — que tem somente uma câmera traseira — e os resultados foram excelentes. Mas não vou entrar nesse assunto, relatarei apenas a minha experiência com esse modo no Mi A1.
Na maioria das vezes, ele funciona bem. É preciso respeitar algumas condições por conta das já citadas limitações da lente, mas no geral, o resultado é satisfatório.
A câmera não soube lidar muito bem com os arredores, mas quando não há muitos elementos a serem contornados, o resultado é bom. Como a “mágica” por trás do Pixel 2 está principalmente na inteligência artificial do software de câmera, se houvesse uma influência direta nesse aplicativo, o resultado poderia ter sido melhor. Mesmo assim, isso pode melhorar nas próximas atualizações.
Desempenho
O Mi A1 possui o famoso Snapdragon 625 (Cortex-A53 octa-core, com frequência de até 2.0 GHz), GPU Adreno 506, bateria de 3080 mAh, 4GB de RAM e 64GB de memória interna com suporte para expansão via micro SD.
Não sou um usuário que exige muito do hardware, mas passo várias horas com o smartphone, conectado no Wi Fi. Minhas principais tarefas consistem em utilizar redes sociais, leitura, Netflix, Pocket Casts, YouTube e Spotify. Por conta desse meu perfil, ao escolher um aparelho, procuro sempre priorizar aqueles que tem bom multitarefa e boa autonomia de bateria. Ao utilizar o Mi A1, já esperava que houvesse fluidez e pouca demora ao abrir ou alternar entre aplicativos — e realmente foi assim — mas fiquei com dúvidas em relação à sua bateria.
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Depois de utilizar por um bom tempo dois aparelhos com bateria de 4100mAh, achei que o Mi A1 poderia me deixar na mão. Bom, eu estava errado. Monitorei a bateria por alguns dias, no perfil
de uso já citado com brilho mediano e obtive o seguinte resultado médio: 29 horas total com 7 horas e 14 minutos de tempo de tela ligada com uma carga (de 0 a 100%). Não esperava esse resultado, já que o aparelho possui uma tela grande de 5,5 polegadas com resolução Full HD.
Se tratando de rodar tarefas mais pesadas, como jogos, o resultado também me agradou, mas não foi nenhuma surpresa. Os jogos que testei foram os seguintes: UFC, Mortal Kombat X, Asphalt 8, Dead Trigger 2 e Modern Combat 5.
O UFC e Mortal Kombat X não permitem alteração da qualidade gráfica, mas a julgar pelo visual, diria que beirava entre médio e alto, entregando boa performance e boas taxas de quadros por segundo. E outra coisa: por conta da quantidade de RAM, eu poderia muito bem alternar entre os jogos sem perder o progresso daquele momento, me satisfazendo mais ainda.
Já os jogos Modern Combat 5, Dead Trigger 2 e Asphalt 8 foram configurados para rodar no Alto e o Mi A1 deu conta tranquilamente na maioria das vezes. No Asphalt havia uma repentina queda de frames, mas nada brusco que atrapalhasse completamente a partida.
Para tarefas básicas e medianas, o Mi A1 dá e sobra desempenho. A sua configuração é ideal para quem não quer dor de cabeça com celulares travando por falta de RAM e processamento, além de poder usufruir de jogos rodando com qualidade minimamente decente. E muitos jogos não serão problema aqui, por conta dos 64GB de memória interna.
Sistema
O Android One é um projeto do Google que seleciona alguns aparelhos de baixo e médio custo para utilizar a versão pura do Android. Uma das vantagens disso é o recebimento de atualizações de segurança e updates de sistemas mais rápidos.
Quando comecei o período de uso para os testes, o aparelho estava rodando a versão 7.1.1 do Android e algumas semanas depois, recebi o update para a 8.0. Diferente de alguns usuários, não notei nenhum problema grave depois da atualização, pelo contrário; os novos incrementos na parte de gerenciamento de bateria pelo sistema proporcionaram uma leve melhoria na sua autonomia.
Mas falando do sistema em si, pode-se dizer que é a mesma experiência de uso em aparelhos Pixel. A interface é simples, sem nenhum rodeio. Outra coisa notável é a fluidez do sistema no geral; a utilização do aparelho foi livre de qualquer travamentos ou atrasos, diferente de outros aparelhos com a mesma configuração mas com sistema diferente.
O Android Oreo trouxe alguns refinamentos internos e mudanças estéticas pouco expressivas. Como já foi dito, houve melhora no gerenciamento da bateria e também no desempenho: o sistema passa a ter mais rigor na imposição de limites de uso de processamento em segundo plano, deixando recursos mais livres e gastando menos energia.
A central de notificações adotou um visual com mais contraste: fundo branco com ícones escuros. O mesmo se aplica às configurações. Houve também uma reorganização dos ítens dentro do painel, deixando a busca mais objetiva. Notei também um aumento na velocidade do reconhecimento da digital, mas foi bem sutil.
Eu tenho uma preferência pessoal por essas versões com baixa intervenção das fabricantes. O Android One mostrou ser um projeto bem promissor e espero que cumpra seu papel de servir de exemplo. Mas notei que apesar dessa parceria com o Google, a distribuição dos updates é controlada pela Xiaomi, que está adquirindo fama de atrasar nos updates dos seus aparelhos em geral. Talvez esse seja o motivo do Mi A1 receber a versão 8.0 somente agora, onde já existe a 8.1. Mas o mais incrível ainda é que esse é o primeiro celular da marca que recebe o Android Oreo.
Conclusão
Este review ficou um pouco longo, mas minha intenção foi dar um bom parâmetro para quem quer adquirir o aparelho ou apenas conhecê-lo com alguns detalhes a mais. Resumidamente, o Mi A1 é destinado para aqueles que querem ter um gostinho de celular topo de linha mas tem um orçamento mais reduzido.
Os principais pontos positivos são a adoção do padrão USB-C, qualidade de tela acima da média, câmera que atende boa parte dos usuários, além da sua segunda lente e as configurações de hardware que aguentam o tranco de várias tarefas. Mas como nem tudo são flores, ele pode ser grande demais para certos usuários, as atualizações de sistema poderiam ser mais rápidas e há falta de suporte do Google nas duas câmeras, causando alguns problemas que felizmente podem ser corrigidos no futuro.
Vale a pena? Sim. Esse aparelho carrega várias coisas interessantes e seus problemas não chegam a definir se vale ou não a pena a compra. Muita gente sonhava com essa junção entre Xiaomi e Google para entregar um aparelho bom, com excelente custo-benefício e Android puro. Felizmente isso aconteceu e o resultado foi bem satisfatório.
Onde comprar?
O Xiaomi Mi A1 pode ser encontrado na GearBest com preços bem interessantes. A loja tem várias modalidades de envio, além de ter um suporte qualificado para atender bem os clientes brasileiros.